Após 22 anos de história e produção científica de qualidade o Programa de Pós-graduação em Biologia, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) tem a sua extinção decretada junto com pelo menos outros 11 PPGs da universidade. Através de uma manobra obscura e e-mails vazios, a reitoria da universidade decide descontinuar programas com produção científica de destaque mundial e alta pontuação. Cursos de mestrado e doutorado de referência internacional serão descontinuados após o último aluno concluir as suas pesquisas, inviabilizando o sonho de tantos outros alunos que objetivam se dedicar a pós-graduação.
O PPG de biologia é referência em diferentes áreas, tais como pesquisas aplicadas que visam buscar maneiras de recuperar áreas úmidas impactadas. Ecossistemas estes que figuram entre os mais importantes no mundo, onde se concentram grande parte da biodiversidade mundial, servido de berçário para a vida e locais de armazenamento de carbono. Além disso, pesquisas sobre o impacto do microplástico nos ecossistemas e sobre bioremediação de poluentes derivados de petróleo estão com os seus dias contados. A biologia da Unisinos é pioneira em pesquisas na Antártica sendo uma das primeiras instituições do país, juntamente com o curso de geologia a pesquisar no continente gelado, garantindo o avanço da ciência e a soberania nacional naquela área. Um grupo de pesquisadores ao investigar processos de dispersão através de aves aquáticas no extremo sul do Brasil, descobriram que este animas podem dispersar plantas e ovos de peixes inteiros para locais distantes de onde foram originados. Descoberta publicada em revistas de renome internacional e divulgadas em diversos jornais tais como The New York Times. Em tempos de grandes impactos ambientais entender como funciona os processos de dispersão entre habitats é fundamental para embasar tomadas de decisões com relação à proteção do meio ambiente. Mas as pesquisas vão além, com o intuito de prever como a fauna responderá à cenários de grande impacto antrópico, os quais são modelados para o futuro próximo, pesquisas utilizam modelos matemáticos, geoprocessamento juntamente com anfíbios e os seus distintos modos reprodutivos como modelos biológicos que indicam o avanço humano sobre um bioma inteiro. Pesquisas básicas são de extrema importância não só para o avanço do conhecimento científico, mas é de interesse de toda a população. Por exemplo, o medicamento contra hipertensão captropil, desenvolvido através de uma proteína encontrada no veneno da jararaca (Bothrops jararaca) em 1965 na USP, só fora possível através de estudos básicos sobre a biologia da espécie. Deste modo, a extinção de cursos de pós-graduação não só de biologia, mas em outras áreas como história, arquitetura, Ciências contábeis, Ciências Sociais, Comunicação, Economia, Enfermagem, Engenharia Mecânica, Geologia, Linguística aplicada e Psicologia causará um impacto imensurável para toda a população brasileira. Visto que estamos saindo de uma pandemia sem precedentes na história e que a ciência brasileira fora fundamental para tal, a decisão de acabar com os cursos é no mínimo equivocada.
Diante deste cenário que caminha para a barbárie, alunos da pós-graduação e da graduação uniram esforços e convocaram um ato de protesto para o dia 26/07. Com a presença de figuras políticas de distintas bandeiras, o evento pretende expor a insatisfação da população frente as medidas tomadas pela nova gestão da universidade. Mas não apenas em função dos ataques à ciência produzida na Unisinos, o ato acolhe a raiva e angústia da população brasileira que observa os avanços, descabidos de quem está no poder sobre as conquistas históricas que a ciência brasileira construiu. Deste modo e apesar de uma revogação do processo de descontinuação dos PPGs não parecer algo possível, o ato demonstrará que a população não apenas assistirá este processo passiva, mas estará na rua para protestar e demonstrar que um caminho diferente é possível.
